"Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia."
Dumbledore

sábado, 12 de julho de 2014

Sobre escrever e destino

Faz tanto tempo que não escrevo. Talvez porque esteja caindo em velhos hábitos e tendo preguiça, afinal escrever é trabalhoso. Olavo Bilac já dizia em um de seus poemas que o poeta
"Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!". 
Não digo aqui que sou uma poetisa ou mesmo que tenho tamanha afinidade com as palavras. Pareço-me bem mais com uma criança que descobre a magia aos poucos e, ao invés de dominá-la, é dominada por ela. Porém, não é por ser uma aprendiz que o trabalho canse menos.
Escrever suga a alma, e por mais que nos deixe mais completos e conscientes de nós mesmos ao final; ainda é um prazer amargo e árduo. Com certeza, é essa a razão para minha fuga. A parte mais prática de mim prefere dedicar-se a atividades menos dolorosas. A parte mais prática de mim cansou-se de tanta angustia e tanta reflexão. A parte prática de mim canso-se de ficar dias e dias tentando digerir filmes, músicas e textos; cansou-se do mal-estar de ser consciência.
Ah, que inveja sinto dos alienados! Inveja daqueles que evitam a realidade que os lancina ao invés de procurá-la avidamente, numa tentativa vã de entender a mente humana, como faço. Daqueles que, de tão rasos, nunca se perdem em seus próprios pensamentos. As vezes, sonho ser uma personagem de algum livro realista sem profundidade psicológica nenhuma. Seria mais fácil viver se não precisasse sobreviver ao delírio de minha mente que insiste em analisar aquilo que até os conscientes ignoram?
Não tenho duvidas de que seria. Não precisar nunca mais me espantar com os horrores de uma sociedade egoísta, injusta e cruel seria uma paz inigualável. Porém se não eu, outro teria que se encarregar de gritar aos surdos aquilo que ninguém quer escutar,ver, constatar. Não que eu tenha algum valor na multidão, mas a imensidão da praia se reduz a uma infinidade de grãos de areia, não? E se formos uma infinidade de grãos de empatia? Talvez também nós consigamos construir uma praia de argúcia.
Talvez os "meninos tristes" que Artur da Távola descreveu em sua crônica sejamos nós, os fadados ao discernimento, à sensibilidade, ao esclarecimento. Provavelmente, estaremos eternamente "olhando de fora os brinquedos na vitrine", eternamente carregando em nossos olhos "as dores da humanidade, presente, passada e por vir"; contudo também destinados a transmitir por meio de nossos "rostos, olhos e mensagens corporais silenciosas" advertências que a sociedade ignora,a fazer Barulho pelo Silêncio.
Somos destinados a ver a realidade desnuda, a digeri-la e depois expô-la a todos como forma de anúncio. Sendo assim, que esse blog se torne uma forma de eu impedir que meu lado prático se sobreponha ao corajoso e impedir que eu ceda a tentação de me alienar em busca de tranquilidade. Que este espaço seja, literalmente, minha maneira de fazer Barulho do meu Silêncio. Coragem a todos nós.

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